Fui criado em bairro. Bairro futebolístico. Onde se valorizava família, trabalho e futebol. Principalmente futebol. Meu pai era um bom boleiro. Principalmente quando eu estava vendo. Ele queria fazer bonito pro filhão. Zagueirão. Dava umas porradas lá de trás. Jogava bem.
Domingo era futebol de manhã e depois cerveja. Para as crianças, salgados de boteco e refrigerantes. E escutar as conversas do pós-futebol. Era bom demais. Estar com o pai nessas horas é bom demais.
Sempre que um amigo antigo de meu pai o encontrava a seqüência de perguntas era sempre a mesma:
É seu filho?
Sim...
Joga futebol?
É... É goleiro!(meio sem graça)
Fui um bom goleiro. Até cansar.
A minha relação com o futebol sempre foi de admiração e respeito. Muito longe da paixão. Bem diferente de meu pai. Um jogo de Brasil e Alemanha(feminino) me atrai bem mais do que um Vasco X Ipatinga.
Meu sobrinho não leva jeito pro futebol. Ele gosta de dançar. Não vivemos na China, mas gostar de dançar break e imitar Michael Jackson não era (é) tão bem visto quanto fazer muitos gols em uma pelada. Mas meu sobrinho sofrerá menos preconceito que eu. Na minha época, ser fã de Ney Matogrosso era muito complicado. Ainda sou, E me orgulho muito de ter tido o gosto musical e artístico que eu tinha na idade do meu sobrinho. Ney Matogrosso dançando e cantando me encanta. E muito. Ele sobra. É único. Com talento facilmente reconhecido em todo o mundo.
Eu também gostava de dançar. Muito mais do que jogar futebol. Arte por arte. Cada um com a sua. Da dança passei a produzir música e ritmos. E dançar os ritmos que produzo.
Comentários
Gostei desse texto. Parabéns!