Os momentos de lazer de minha pré-adolescência e adolescência foram passados em grande parte no Peró. Bairro de Cabo Frio. Naquela época muito tranquilo e pouco povoado.
Havia um apartheid entre os jovens com e sem mobilete. E é lógico que eu e minha irmã queríamos fazer parte dos mobiletados. Por uma união entre falta de recursos e medo, meu pai nunca chegou a nos presentear com a magrela. Graças a esse episódio, costumo, hoje em dia, enxergar a falta de recurso como oportunidades.
Enquanto a playboyzadinha ficava tarde inteira e grande parte da noite queimando gasolina, restava a nós, sem mobilete, arrumar outras coisas a fazer.
Fiz muitos amigos. Nenhum tinha mobilete. Muitos deles mantenho amizade até hoje. Aprendi a pescar, surfar, mergulhar, saltar de penhascos, joguei bola, soltei pipa, participava de expedições às dunas, às pedras ou outras praias, sempre em longas caminhadas. E mobiletados... Só na mobilete.
Mas minha maior conquista, definitivamente foi o violão, que também iniciei no tempo da mobilete. Era meu trunfo... Com o tempo , o violão foi sobressaindo no interesse das menininhas... E passou a dar poeira nas mobiletes.
É por isso que quando um leio um texto de José Junior, do Afroreggae, entendo perfeitamente o que ele diz. Precisamos de muito mais do que objetos caros. Bacana é descolar atividades boas com os recursos que se tem. A disciplina é importante até para nossa diversão. Tá cheio de moleque jogando basquete muito bem, mas só no videogame. E quando tem que se dedicar a alguma atividade, não há paciência.
Mas o principal recado é: Não é porque tá todo mundo fazendo que eu tenho que fazer também. Mas se meu filho um dia me pedir uma mobilete, talvez eu até dê uma pra ele...
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